À
semelhança de milhares de pessoas, Henrique Raposo é filho de alentejanos que
migraram para Lisboa na década de 60 do século passado. À minha semelhança,
Henrique Raposo cresceu em Lisboa considerando o Alentejo como o seu berço, o
local onde poderia chamar de “casa”, esperançado que um dia poderia voltar a
habitar o local que os seus antepassados abandonaram em busca de uma vida
melhor e, conforme acontece inúmeras vezes, comigo inclusive, Henrique Raposo
quando começou a conhecer o Alentejo sentiu uma enorme decepção.
No
entanto e ao contrário de Henrique Raposo, eu fui mais longe, eu não me limitei
a escrever um road movie sobre o
Alentejo. Simplesmente eu vim para cá viver com a ilusão que cá a minha vida
poderia melhorar. Debalde pensamento esse, aqui só encontrei decepção, não
apenas com a região que muitos pintam de bela mas e sobretudo com as pessoas.
Este
pequeno livro, chamemos-lhe então Road
Movie, nasce da pretensão do autor, jornalista, em conhecer e descrever o
Alentejo. É um pequeno livro (pouco mais de 100 páginas), onde o autor vai
traçando um contexto socio económico e histórico de toda a região, analisando
igualmente o comportamento das suas gentes.
Para
quem não conhece o Alentejo, poderá julgar que o autor exagera ou tem a
intenção de “dizer mal”, mas nada disso, o autor simplesmente fala a PURA
VERDADE, nua e crua, verdade essa que muitos iluminados e puristas não gostam
de ouvir.
E o
autor como não mora aqui, desconhece outros pormenores: Na sua generalidade, os
alentejanos, são invejosos, maldosos, maldizentes, falsos e desconhecem o que é "ter palavra". Ou
seja, jamais dizem olhos nos olhos o que pensam, preferindo antes dizer mal
assim que a pessoa vira costas. Para além disso, a mentira é algo que estão tão
enraizada, que mentir é como uma segunda pele:
“estava a mangar”. Palavra dada é algo que não é tida como sagrada. Aqui
combinar algo não é visto como tido e garantido. Marca-se uma hora e nem sequer
aparecem nem se dignam a avisar. É normal! E a violência familiar toma
proporções como eu nunca vi e senti em Lisboa. Aqui é normalíssimo a mulher
“apanhar” do marido e as pessoas vêm isso como normal e nem se metem.
O
autor escreve: “um olhar desconfiado,
austero e antigo…”; “… nunca nos
sentimos bem acolhidos. Pedimos, comemos, pagámos, sorrimos e dissemos adeus,
mas a rapariga do café nunca abriu o sorriso. De onde virá essa antipatia
sulista partilhada por alentejanos e algarvios?”. NA MUCHE! Nós aqui só nos
sentimos algo bem acolhidos quando as pessoas nos começam a considerar
habitantes de cá, de resto não passamos de turistas lisboetas.
O
autor fala assim que o alentejano é desconfiado, que desconfia de tudo e todos?
É a pura verdade!
Fala
da normalização do abuso sexual, consubstanciado em expressões típicas que é
comum ouvirmos em qualquer local? É verdade!
Eu
acho engraçado muitos defenderem o Alentejo com unhas e dentes, criando grupos
nas redes sociais como “Meu querido Alentejo”, “Alentejo da Minha Alma”, etc. Oh amor tão lindo, mas o curioso é que são pessoas que não vivem no Alentejo, vivem bem longe. Costumo
dizer: “se é tão bom porque não vivem aqui?”. Querias!
Em
todo o caso o autor passa um pano por cima de todas essas “acusações” ao
referir razões históricas que explica a posse desconfiada e a antipatia deste
povo, assim como encontra razões históricas para explicar a enormíssima taxa de
suicídio e a forma como esse fenómeno é visto na região, como algo normal.
Não
gostam os mais puritanos que se entretêm com cantorias pacóvias (parece um concerto de zombies) demonstrando a
sua maldade congénita. Temos pena, mas este livro fala apenas a verdade e o
autor até diz pouco daquilo que eu pessoalmente conheço e já senti na pele.
E agora podem-me excomungar! Falsos!